Confira o passo a passo da cirurgia de pterígio realizada e narrada pelo Dr. Davi Gomes dos Anjos (CRM 52-108927-7), oftalmologista especialista em catarata e pterígio.
O que é pterígio?
Conforme já explicamos em nosso post “Tudo que você precisa saber sobre o pterígio”, o pterígio é o nome dado ao tecido fibrovascular de formato triangular que cresce de forma anormal sobre a córnea – popularmente, esse tecido é chamado de “carne crescida”. Ele pode ser bem pequeno, visto apenas pelo microscópio, ou pode ser grande e visível a olho nu.
Os sintomas de um pterígio podem incluir vermelhidão ocular, irritação, sensação de corpo estranho nos olhos, coceira, ardor, visão borrada e desconforto ao piscar.
No entanto, é muito comum que os pacientes não sintam nenhum sintoma além do crescimento anormal do tecido fibrovascular sobre a córnea.
Quais são os tratamentos?
O pterígio não some naturalmente e não há tratamento para eliminá-lo que não seja por meio de uma cirurgia. Em casos leves e moderados, é possível tratar os sintomas como coceira, vermelhidão e outros incômodos que o paciente possa sentir quando a doença surge.
No entanto, para retirá-lo é necessária uma cirurgia chamada de “Exérese de Pterígio” ou simplesmente cirurgia de pterígio.
Existem diferentes técnicas de cirurgia de retirada do pterígio e a escolha da melhor técnica é muito importante para o sucesso da cirurgia. A melhor técnica varia conforme cada caso e é determinada pelo cirurgião.
O pterígio sempre pode crescer novamente após a cirurgia. No entanto, algumas técnicas apresentam uma taxa menor de recidiva (retorno) da carne crescida.
Geralmente, a técnica mais indicada que está relacionada a uma menor taxa de recidiva é a técnica de retirada do pterígio com autotransplante conjuntival. Essa é a principal técnica utilizada aqui na dr.olho, por exemplo.
Como é a cirurgia de pterígio?
Para facilitar o entendimento, o oftalmologista Dr. Davi Gomes dos Anjos (CRM 52-108927-7), especialista em catarata e pterígio, gravou uma cirurgia e explicou o passo a passo da operação.
Assista ao vídeo abaixo e ligue o som para ouvir a voz do especialista. Como é um vídeo de cirurgia, é possível que você precise confirmar que tem mais de 18 anos no YouTube. Confira:
Passo a passo da cirurgia de pterígio
O primeiro passo da cirurgia começa antes mesmo de o paciente entrar na sala de cirurgia. Antes da operação, o paciente passa com o anestesista para preparos pré-cirúrgicos, como a aplicação de anestésico tópico em colírio e em gel no olho a ser operado. Esse procedimento fará com que o olho fique anestesiado em sua parte externa, onde será feita a cirurgia.
Em seguida, na sala cirúrgica, é feita a limpeza da região dos olhos para esterilização e colocação do blefarostato, que é um aparelho que mantém o olho aberto durante toda a cirurgia.
Depois, a cirurgia realmente começa. Inicia-se a operação com a aplicação de anestésico com vasoconstritor no corpo do pterígio – ele pode ser dividido entre cabeça, pescoço e corpo. Cabeça é a parte do pterígio que está sobre a córnea. Corpo é a parte que fica sobre a esclera, a parte branca do olho. Já o pescoço, por sua vez, é o que une as duas partes do pterígio.
Essa etapa é importante porque diminui a quantidade de sangramento durante a cirurgia.
Após a anestesia, o cirurgião, com o auxílio de uma tesoura, disseca o pterígio separando-o da esclera (veja no vídeo).
Quando o pterígio fica totalmente separado da esclera, o cirurgião corta o corpo do pterígio garantindo que, ao redor dele, reste apenas a conjuntiva saudável. Após essa separação, o cirurgião retira a cabeça do pterígio, que é a única parte que ainda está presa na córnea.
Após este passo, o cirurgião pode utilizar um instrumento parecido com uma broca que fará um polimento na córnea de forma a não deixar nenhuma irregularidade. É claro que essa broca é muito pequena e específica para esse tipo de cirurgia! Essa etapa é extremamente importante para diminuir a incidência de cicatriz visível no pós operatório.
Depois da retirada completa do pterígio e o cirurgião garantir que não restou nenhuma irregularidade corneana, é o momento de preparar o transplante conjuntival.
Na região superior do olho, em cima da córnea, o cirurgião retira um pedacinho de conjuntiva do mesmo tamanho do pterígio.
Nesse momento, é importante explicar que o olho é recoberto por dois tecidos extremamente finos: o mais externo chamado de conjuntiva, onde pode acontecer a famosa conjuntivite, e o mais interno chamado de tenon. Abaixo do tenon, temos a esclera, que vamos chamar aqui de “parede” do olho.
Essa é a etapa mais difícil dessa cirurgia, porque é quando o cirurgião deve retirar da região superior do olho apenas o tecido mais externo, ou seja, a conjuntiva.
Esse processo, o da separação da conjuntiva e do tenon, é feito com o auxílio da tesoura cirúrgica.
Quando o tecido a ser transplantado estiver pronto, o cirurgião pode retirá-lo e posicioná-lo onde ele será fixado (onde antes estava o pterígio). Essa fixação pode ser feita com pontos de sutura ou com cola biológica.
Quando a cirurgia é feita com pontos, o fio utilizado é feito de um nylon extremamente fino, parecido com um fio de cabelo. São dados a quantidade de pontos suficiente para manter o transplante no lugar.
Quando é feita com cola biológica, o médico a aplica no leito escleral onde antes estava o pterígio e depois posiciona o transplante sobre a cola. Após confirmar que o transplante está bem posicionado e fixo, a cirurgia pode ser finalizada.
Pós operatório
No caso da cirurgia feita com pontos, estes devem ser retirados entre 7 e 10 dias após a operação em consultório médico por um oftalmologista. Quando a operação é feita com cola, é necessário retornar para avaliação da recuperação, mas não há, claro, nenhuma sutura para ser retirada.
Alguns cuidados devem ser tomados durante o pós operatório da cirurgia de pterígio: o paciente deve tomar todos os remédios e colírios prescritos conforme a orientação médica e, sob nenhuma hipótese, o paciente pode coçar os olhos.
Esfregar os olhos durante o pós operatório pode retirar o transplante do lugar. Se isso acontecer, não é possível refazer a cirurgia e a recuperação do paciente pode ser prejudicada.
Lembre-se: cada caso é um caso. Siga a orientação do seu médico oftalmologista.
Riscos
A cirurgia de pterígio oferece riscos baixos. Os principais riscos associados a essa cirurgia são os riscos de infecção, que são tratados com medicamentos, e há também o risco de lesão a algum músculo do olho durante a cirurgia.
O olho tem 6 músculos externos que são responsáveis pela movimentação ocular. Os dois músculos laterais (nasal e temporal) ficam posicionados exatamente embaixo de onde cresce o pterígio.
Por isso, o maior risco dessa cirurgia é lesionar um desses músculos no momento da retirada do tecido. Se isso acontecer, o paciente pode evoluir para um quadro de estrabismo, que deve ser corrigido com uma outra cirurgia.
É importante reforçar que esse tipo de problema é extremamente raro. Consulte o seu médico oftalmologista para entender melhor os riscos da cirurgia para o seu caso.
Em casos em que o pterígio está muito grande e aderido na córnea, pode haver uma cicatriz na forma de opacidade corneana. Para ilustrar esse tipo de caso: é como retirar um rótulo de garrafa que fica com as manchas da cola depois e não sai de jeito nenhum, sabe?
Por essa razão, se o pterígio estiver muito grande e localizado na direção do eixo óptico, ou seja, na frente da pupila, que é por onde a gente enxerga, a cicatriz ficará posicionada na frente da pupila e o paciente pode ficar com uma visão turva após a cirurgia.
Nós já falamos sobre casos muito avançados de cirurgia em outro post. Confira!
Quero ver