A hidroxicloroquina é um medicamento de uso crônico em pacientes com doenças reumatológicas e possui sérios efeitos colaterais, como a cegueira. Por isso, seu uso só pode ser feito com acompanhamento médico.
O que é hidroxicloroquina?
O sulfato de hidroxicloroquina foi desenvolvido em 1946 para substituir a cloroquina, droga que era utilizada no tratamento da malária. Atualmente, além da malária, a hidroxicloroquina é utilizada para o tratamento de doenças reumatológicas como a artrite reumatóide e o lúpus.
Doenças reumatológicas são tratadas de forma crônica e se mantém sob controle com o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina. A falta ou o uso irregular de medicação pode descompensar a doença e agravar os sintomas do paciente. Após um quadro de descompensação, o retorno à fase estável é difícil e trabalhoso.
O uso de hidroxicloroquina precisa de acompanhamento médico
Ao iniciar o tratamento de um paciente com doença reumatológica com a hidroxicloroquina, o médico faz uma série de exames para descartar outros problemas de saúde que podem ser agravados com o uso prolongado da substância.
Um exemplo é a avaliação completa dos olhos. Existem algumas alterações da retina que contraindicam o uso de hidroxicloroquina pelo paciente, uma vez que a medicação, a longo prazo, pode causar danos irreversíveis e até cegueira. Assim, se o paciente já tem alguma patologia que pode ser agravada pela hidroxicloroquina, seu uso é contraindicado.
A hidroxicloroquina e a COVID-19
Estudos na França mostraram, em resultados preliminares, uma ação positiva da hidroxicloroquina em pacientes em estado grave com COVID19. No entanto, esses resultados foram obtidos em caráter de pesquisa e não há resultados suficientes que justifiquem o seu uso para previnir ou tratar a doença na população em geral.
O uso desta medicação por pacientes que não precisam só vai reduzir os estoques, atrapalhar o tratamento daqueles que têm indicação do uso por doenças reumatológicas (deixando sua doença sem controle).
Hidroxicloroquina, os olhos e a cegueira
O uso prolongado da hidroxicloroquina causa diversos efeitos colaterais. Em um trabalho realizado no ambulatório do Hospital das Clínicas,¹ em São Paulo, em que foram avaliados 350 pacientes portadores de lúpus e tratados com difosfato de cloroquina, observou-se 35,7% de reações adversas, sendo que 22,9% deles necessitaram suspender o tratamento.
As reações adversas mais comuns foram: alterações oculares (17%); gastrointestinais (10%); dermatológicas (3,4%); neuromusculares (1,7%) e alterações psiquiátricas (0,3%).
As alterações oculares são causadas pelo efeito tóxico da cloroquina na retina após um período prolongado de uso. É por isso que pacientes que necessitam deste tratamento mantém um acompanhamento frequente com seu médico, para detectar precocemente se há algum efeito adverso. Se houver, muitas vezes a indicação é suspender o tratamento. As consequências podem ser graves (cegueira) e irreversíveis.
Falta de hidroxicloroquina nas farmácias
Após a divulgação de que a utilização de hidroxicloroquina em pacientes graves de COVID-19 apresentou resultados positivos, houve uma corrida para comprar o medicamento nas farmácias. Essa compra desenfreada da hidroxicloroquina levou à falta do medicamento nas prateleiras para quem utiliza o remédio de forma crônica para tratar doenças reumáticas. Por isso, a ANVISA passou a exigir que as farmácias exijam a receita médica para a venda da hidroxicloroquina.
Campanha para devolver a hidroxicloroquina
Na internet, muitas pessoas têm pedido para que aqueles que compraram a hidroxicloroquina para se prevenir contra o coronavírus, devolvam o medicamento ou doem para quem precisa! Se você foi uma dessas pessoas, não utilize a hidroxicloroquina sem prescrição médica e, se possível, devolva o medicamento à farmácia ou doe para quem realmente precisa dele!
¹ LACAVA, Augusto Cézar. Complicações oculares da terapêutica com a cloroquina e derivados. Arq. Bras. Oftalmol., São Paulo, v. 73, n. 4, p. 384-389, Aug. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27492010000400019&lng=en&nrm=iso>. access on 25 Mar. 2020. https://doi.org/10.1590/S0004-27492010000400019.